Antes de conseguir assistir ao filme, li muitos textos que fazem análises super interessantes sobre ele. Meu texto será bem despretensioso, só fazendo mesmo um breve relato dos pontos que me chamaram atenção, e recomendando fortemente que todos assistam a esse filme sensacional.
O Som ao Redor se passa na cidade de Recife, e possui um enredo que se assemelha ao multiplot, mas não chega a ser exatamente um, pois algumas histórias não chegam a se cruzar, e parecem a princípio isoladas umas das outras até mesmo em seus simbolismos.
É muito difícil explicar, pra quem não viu o filme, sobre o que ele é. Ele é sobre tudo e nada ao mesmo tempo, com personagens fortes, mas que não se desenvolvem tanto num nível psicológico para que possamos acompanhá-los de maneira mais tradicional. Não tem grandes viradas dramáticas, nem grandes acontecimentos, até quase o final do filme.
Um tema que fica mais evidente é o do dia-a-dia urbano, principalmente a paranóia crescente dos moradores do bairro com a violência que os cerca. Porém, o incômodo dessas pessoas parece vir de outro lugar. O som ao redor, os barulhos que os incomodam, pode até ser a princípio um latido incessante do cachorro do vizinho, mas veremos que o buraco é muito mais embaixo.
Em rápidos flashes, ou mesmo na periferia do enquadramento, vemos os resquícios da escravidão e da lógica do coronelismo permearem o dia-a-dia daquele bairro de classe média; quanto mais eles parecem ignorar ou esconder essa ‘sujeira’ ou ‘barulho’, mais difícil fica, até os momentos em que as coisas se escancaram. Ou, numa metáfora explícita do filme, o sangue escorre como uma cachoeira.
As melhores cenas, na minha opinião, são as que exploram a relação que as famílias de classe média estabelecem com as empregadas domésticas, mesmo que estas não apareçam no enquadramento. Gosto bastante também de alguns detalhes sobre os personagens ligados ao coronelismo, o avô dono de quase todos os terrenos do bairro, e o neto que usa e abusa do poder de seu avô para cometer delitos sem punição. São eles os únicos personagens que conseguem caminhar pelas ruas perigosas da cidade em plena madrugada, sem qualquer medo. A paranóia fica para os outros. O avô até mergulha na praia cheia de tubarões, tão confiante que é de que seu poder é inabalável.
Talvez o personagem mais curioso seja João, o outro neto, e suas crises de consciência, sentindo-se levemente culpado por pertencer à classe dominante. O filme é cheio de “boas ações” dele, preocupando-se com os fracos e oprimidos, desde que não atrapalhe seus compromissos, é claro.
Por fim, vale lembrar que o título não é apenas referente ao simbolismo temático, mas também um convite a observarmos a edição de som do filme, que é muito bem feita e capturada de maneira muito diferente de outras produções. Assim, os sons que geralmente não escutamos, principalmente porque estamos em uma cidade grande, ficam mais altos. Os diálogos, que deveriam ser captados numa qualidade melhor, às vezes são incompreensíveis. Genial.
Assista ao trailer aqui.
O filme ainda está nos cinemas.
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