domingo, 10 de fevereiro de 2013

#6 - Good Hair




Good Hair (2009, EUA) é um documentário produzido, narrado e protagonizado pelo comediante Chris Rock, que sai em busca de informações a respeito da cultura que se formou em torno do cabelo africano nas últimas décadas.
Logo no início do filme, Chris Rock comenta que o que o impulsionou a investigar o assunto foi uma pergunta que sua filha de 5 anos fez para ele: “Por que eu não tenho cabelo bom”?
A jornada em busca de uma explicação para essa questão ou, em outras palavras, para os motivos pelos quais os negros (essencialmente as mulheres negras) pagam fortunas para alisar seus cabelos, numa necessidade urgente de negar literalmente suas raízes africanas.
Até aqui o filme promete, né? Na verdade, porém, ele me decepcionou um pouco. Talvez porque o assunto é tão interessante que gera altas expectativas, ou talvez porque o Chris Rock parece ter ficado tão chocado com as coisas que descobriu que ele mal conseguiu reagir a isso e lidar de maneira crítica e instigante.

Ainda assim, vale a pena ver o filme, exatamente por essas revelações capazes de chocar o comediante. Alguns exemplos são os preços absurdos dos apliques (e das manutenções semanais que eles exigem), a origem bizarra desses apliques (que são feitos com cabelos humanos), a relação com as indústrias chinesas e coreanas e as mulheres indianas (maiores doadoras de cabelo, pra não dizer vítimas de um golpe que envolve os templos da Índia e o tráfico de cabelos), os malefícios surreais que os produtos químicos de alisamento causam para a saúde das mulheres, etc. Isso sem mencionar as conseqüências disso no dia-a-dia das mulheres, que nunca entram numa piscina, vivem estressadas com a chuva, nunca tomam banho com seus namorados e maridos, e precisam evitar certas posições sexuais para que não tenham constrangimentos com os cabelos.


O filme passa um bom tempo acompanhando uma espécie de reality show de cabeleireiros famosos, o que pra mim é o ponto mais fraco de todo o roteiro. Poderia ter focado mais nos três fundamentos em que se baseiam toda a questão do cabelo: o racismo, o machismo e o capitalismo.
Racismo, sim, porque não é coincidência que o cabelo ruim é o negro, e o bom é o liso, no padrão europeu.
Machismo, sim, porque aposto que, de cada 100 pessoas (negras ou não) com problemas sérios de auto-estima com seus cabelos, 99 são mulheres. São elas que precisam estar “bonitas”, “apresentáveis”, etc, para conseguir um emprego, um marido, uma vida feliz. Há uma cena com uma moça de Black Power em que suas amigas mencionam que jamais a contratariam para um emprego por causa de seu cabelo. “Ele não passa seriedade”.
 Capitalismo, sim, porque quase nada disso seria assim se não houvesse um grande interesse de mercado incentivando as pessoas a consumirem esses produtos. São 9 bilhões de dólares apenas na indústria para cabelos negros.
O filme pouco explora essas três questões, mas nos deixa com uma sensação muito amarga ao revelar, nas vozes das próprias mulheres negras (muitas delas pobres), que a coisa toda está tão intrincada na cultura afro-americana que parece quase impossível haver uma mudança. Com que direito ele impedirá suas filhas de alisarem seus cabelos, ou de colocaram apliques, se isso significa a única opção que elas têm de se inserirem e serem aceitas na sociedade?
Ele não diz isso, mas suas expressões de tristeza ao longo do filme transmitem essa sensação. Uma mentira dita 50 vezes torna-se uma verdade. Racismo, machismo e capitalismo juntos vêm mentindo para nós há muito tempo, chegando ao ponto de definirem claramente o que é certo e o que é errado, o que é bonito e o que é feio, sem que a gente perceba que é algo imposto, e não natural.  


Veja o trailer do filme aqui

Baixe o torrent aqui [via piratebay]



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