sábado, 13 de julho de 2013

#9 Truque de mestre


Bateu aquela vontade repentina de ir ao cinema sozinha em plena 6ª feira. E escolhi o filme mais hollywoodiano possível – dentro dos limites da minha paciência e do meu interesse, claro – para alegrar minha noite.

Não conhecia o diretor (que mais tarde vi ser o mesmo de Fúria de Titãs e de O Incrível Hulk), mas o roteiro que vi no trailer me interessou muito.

Truque de Mestre (Now you see me, EUA, 2013), dirigido por Louis Leterrier, conta a história de um grupo de mágicos com diferentes habilidades que se reúnem para fazer um projeto robinhoodiano.  Os shows-atos dos “Quatro Cavaleiros” roubam dinheiro de bancos e milionários e distribuem para a platéia. Há cenas catárticas, como aquela em que vemos o dinheiro saindo da conta do milionário e sendo devolvido para as pessoas que foram vítimas das falcatruas de sua empresa. 

Sem entrar em detalhes do enredo, que não sai muito do que já descrevi acima, o que me chama a atenção nesse filme é a metáfora da Mágica. Se é um filme de roubo, que parece defender a tese da necessidade da distribuição de renda, esse roubo só é possível através da mágica. Não é à toa que o primeiro show acontece em Las Vegas, o que reforça ainda mais a idéia de “capitalismo cassino” que permeia o imaginário do filme e da nossa sociedade contemporânea.

Se temos a sensação de que o dinheiro some e reaparece como mágica nas transações diárias que testemunhamos na economia atual, não me parece inverossímil que o filme construa essa relação nos mesmos termos, levando a metáfora da mágica ao pé da letra. O que preocupa é, de novo, a mágica como única possibilidade de reviravolta. A justiça social parece depender de um milagre. Ou seria de um truque?

Os Quatro Cavaleiros, além disso, são liderados por alguém que nem eles mesmos conhecem, apenas obedecendo ordens. Novamente, temos a dificuldade de figuração de uma liderança como sintoma de nosso momento histórico. E, se não conhecemos o líder, sabemos menos ainda de que lado estão os Cavaleiros. No final, o filme revela quem é. Não farei spoiler aqui, mas já adianto que essa revelação não esclarece muito a posição ideológica do filme.

Além do suspense em relação ao líder, o filme brinca também com os aliados. E com a figura do 
detetive/investigador, que parece estar sempre um passo atrás dos mágicos, iludido pelos truques. O maior problema é que não só o detetive, mas também nós espectadores, somos expostos ao ilusionismo dos truques – nesse caso da montagem. As cenas, recheadas de ação, possuem uma montagem rápida que cria o mesmo efeito ilusionista da mágica.


O que os mágicos fazem em seu ato, apesar de flertarem com um rompimento interessante da lógica do Capital ao brincarem com a coisa de maneira robinhoodiana, é puro espetáculo. As massas, hipnotizadas, comportam-se passivamente e estão lá para serem entretidas, num jogo que já tem todas as cartas marcadas. Nós, espectadores, somos expostos ao mesmo tipo de espetáculo. É um filme sintomático de si mesmo.


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