Filme argentino bom e com o ator Ricardo Darin é quase um pleonasmo. Elefante Branco (Pablo Trapero, 2012) não é uma exceção.
Confesso que filme latino-americano sobre miséria, favelas e tráfico de drogas às vezes cansa um pouco. O clichê da linguagem documental (câmera na mão, luz que estoura, dialetos incompreensíveis) também. Mas se a combinação de tudo isso vier com um roteiro interessante e ligada a uma mensagem política que não caia nos perigos de Tropa de Elite, o filme já ganhou minha atenção.
O que mais me chama atenção nesse filme é como, a partir de um enredo beirando a narrativa clássica, com um herói recém-chegado a um lugar novo que lhe é apresentado por um mentor, e que vivencia conflitos morais e materiais durante sua jornada, consegue se amarrar a diversos (quase que demasiados) conflitos políticos e sociais, traçando ao mesmo tempo um panorama da periferia argentina, da igreja católica e da polícia.
Não vale a pena contar aqui a história toda do filme, mesmo porque o roteiro parece linear, mas é bem confuso (o que não é necessariamente uma crítica). O que vale a pena é mencionar que o ponto alto do filme, ao menos para mim, é a análise que ele faz sobre a religião como elemento integrador de uma comunidade, e o potencial que isso pode ter se as figuras por trás da instituição estiverem engajadas com um projeto político, e não apenas com discursos e orações.
Há quem diga (se não me engano, o próprio Brecht) que não podemos separar os indivíduos das instituições às quais eles pertencem. Discordo em absoluto, e esse filme parece discordar também. Afinal, a luta dos padres, protagonistas do filme, vai muito além do que a instituição igreja lhes permite e lhes ensina. E, a partir de sua profissão (sem se prenderem a ela, mas sem precisarem renegá-la), tornam-se agentes históricos daqueles pra colocar muito ateu marxista no chinelo. Basta lembrar do histórico da Teologia da Libertação no Brasil e outros locais da América Latina pra ver que não estou exagerando.
Ópio do povo? Não sei. Depende do que se considera ópio. Se é uma válvula de escape que nos faz ignorar os problemas do aqui-agora e apostas as fichas numa solução de cima para baixo, nesse filme a religião (ou melhor, os seres humanos que se relacionam através da religião) está longe de ser ópio. É instrumento de luta. É fé no aqui-agora, e não em promessas abstratas apenas. E por isso é humana, contraditória, falha e mortal.
Assista ao trailer aqui.
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