Quase desisti de escrever sobre esse filme pro blog. Assisti há alguns dias, e gostei tanto que achei que ele merecia uma crítica mais aprofundada, objetivo que este blog não tem. Aqui pretendo apenas fazer um registro dos filmes que assisti em 2013, e breves comentários sobre eles.
Mas o filme é tão relevante para a discussão entre cinema e política, que é o tema escolhido pro blog, que não tinha como simplesmente ignorá-lo. Então, com o perdão dos comentários que nunca chegarão à altura da complexidade do filme, vamos lá.
"No" faz parte de uma trilogia do diretor Pablo Larraín sobre a ditadura de Pinochet no Chile (os outros filmes são Tony Monero, de 2008, e Post Mortem, de 2010). Nesse último, a história se concentra em torno do plebiscito convocado pelo próprio Pinochet para legitimar seu governo. A população votaria em "SÍ" caso quisesse que Pinochet continuasse no poder, ou "NO", caso quisesse que ele saísse e fossem convocadas eleições presidenciais. O protagonista, representado pelo maravilhoso ator Gael Garcia Bernal (aiai...), é um jovem publicitário contratado pelos organizadores da campanha contra Pinochet para elaborar as estratégias e propagandas.
O que torna tudo mais interessante é exatamente o fato de o personagem vir do mundo da publicidade. Com essa combinação explosiva entre marketing e política, o filme faz um mapeamento da história da Esquerda e das suas tentativas de representação e intervenção cultural na luta de classes. Assim, acaba se tornando metalinguístico, indiretamente trazendo à tona a discussão do que é fazer cinema político, quais são as estratégias estéticas e os limites éticos por trás disso. Tanto a monotonia e mesmice das campanhas mais 'tradicionais' de Esquerda, que se mostram incapazes de dialogar com seu público ao repetir as mesmas fórmulas de décadas (para não dizer séculos) passados, quanto a brutal infantilização e apagamento histórico das novas estratégias quase que puramente mercadológicas da campanha proposta pelo publicitário são alvos da crítica do filme.
Vale ressaltar aqui que o filme é incrivelmente divertido. Damos muitas risadas ao ver os absurdos que cada campanha faz para conseguir atrair a atenção da população chilena, e vemos que muito do marketing político surreal dos últimos anos já existe há muito tempo. Apelações das mais incríveis, estéticas das mais bregas, composições musicais e cenários de chorar... Enfim, só vendo o filme pra entender até onde a coisa vai.
Se o saldo final do filme é otimista ou não, fica difícil dizer. Ele possui uma estrutura circular que parece apontar para um certo cinismo de que não há nada de muito novo no front, mas é inegável o fato de que a ditadura chilena foi derrotada em grande parte POR CAUSA dessas estratégias problemáticas. Na minha opinião - que talvez vá além do filme - a mensagem é que, quer queiramos ou não, precisamos admitir que o cenário político é outro, e que novas estratégias (não necessariamente as da publicidade) são necessárias.
Uma curiosidade estética do filme é a escolha do diretor em filmar com uma câmera U-matic 3/4, comumente usada no final da década de 80, para dar mais realismo às imagens. Assim conseguiu obter a textura e as cores dos documentários de televisão chilenos da época que se confundem com as cenas de ficção do filme. [Fonte: http://www.socinema.com.br/no-pablo-larrain]
Nas palavras do diretor: “Eu cresci nos anos 80, durante a ditadura. O que vimos na televisão, as imagens em baixa definição, era uma imagem suja que está intocada no meu imaginário. Assim como na memória coletiva do povo chileno que está cheia de lembranças de escuridão e impureza”.
O trailer com legendas em português pode ser visto aqui.
Não preciso nem dizer que os outros dois filmes da trilogia já entraram na lista dos filmes que pretendo ver em 2013, né?
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